A teologia está tendo de dar novas respostas a indagações contemporâneas. A área da teologia que está sendo mais afetada por essas indagações é mais precisamente a teologia da criação. A teologia da criação, mais do que descrição de um começo, ela é proposição de uma salvação dirigida a uma liberdade.
Os primórdios de um começo oferecem-nos meios para "elaborar novos modelos, buscar novas imagens, mais pertinentes aos olhos [...] contemporâneos". Dentre esses novos modelos, adotamos o "modelo do jogo", que está em oposição ao trabalho (utilidade).
O jogo nada produz. O jogo é "uma ação que envolve os parceiros em uma iniciativa que articula, de maneira fecunda, uma legalidade e uma liberdade [...] Em vez de dominar o mundo, em vez de querer transformá-lo ou mudá-lo [...] procura-se unir-se a ele pela contemplação". (EUVÉ, 2006, p. 19)*. Assim Deus salva atualmente. Esse modo de pensar a criação facilita um diálogo franco entre ciência e teologia (método científico e método da fé).
A época contemporânea volta os olhos para as questões da natureza. Aparece aqui uma tendência: a “espiritualidade cósmica”, que percebe o caráter divino da natureza. Essa é uma das tendências contemporâneas que buscam “um novo modo de pensamento”. Pois, mudando o modo de pensamento muda-se o modo de se relacionar com a natureza (e, conseqüentemente o modo de se relacionar com Deus).
Para Capra, “a noção de jogo está presente no discurso através da imagem da dança [...] o jogo é uma figura circular: é um grande ciclo de criação e de destruições, a passagem do nascimento e da morte”. (EUVÉ, 2006, p. 34).
Neste jogo está o ser que é traspassado por um desejo imenso de superação. O superar limites impulsiona este ser neste joga da criação, fazendo-o ir além de si mesmo. Faz parte a este jogo a alegria e o prazer, mas também a tensão e o sofrimento.
Perante esse pensamento surge a aspiração do ser humano contemporâneo que é de estabelecer uma nova relação com a natureza, que não seja mais de dominação e de exploração, mas de respeito e de escuta.
Continua...
______________________________________
* EUVÉ, Françóis: Pensar a Criação como Jogo. O autor do livro é um jesuíta com formação universitária em Física além do doutorado em Teologia. Conjuga as duas frentes teóricas da ciência e da teologia para abordar o tema da criação em novas perspectivas. Logo de início aponta como insustentável hoje em dia a concepção da criação a partir do modelo de uma produção acabada, tendo um fundamento como marco para o desenvolvimento histórico. A história se desenrolava em uma natureza quase estável. As representações de Deus iam na linha do artífice, do engenheiro, até mesmo do relojoeiro. A categoria de causalidade, de origem aristotélica e assumida por Santo Tomás, procurava dar conta do ato criador.