sexta-feira, 30 de junho de 2017

Os Discípulos de Emaús

Paz e Bem meus irmão e minhas irmãs!
Texto Bíblico:  Lucas 24,13-35

Qual o ensinamento que podemos extrair desse brilhante texto?
Primeiramente, o texto faz referência ao modo de como eram celebradas as reuniões dos primeiros cristãos. Essas reuniões ou celebrações eram divididas em duas grandes partes: a primeira era a escuta da Palavra e a segunda era a partilha do pão. Esse modelo está presente na Liturgia Eucarística que hoje celebramos.
No texto, percebemos que os discípulos estão afastando-se de Jerusalém, ou seja, afastando-se da origem, afastando-se dos apóstolos, afastando-se da Tradição Apostólica deixada por Jesus. Aproximando-se deles, Jesus entra na conversa e quer saber o porquê de tanta tristeza. Assim, Jesus nos ensina que devemos escutar e caminhar junto com aqueles que andam tristes pelos caminhos da vida, antes de proferir alguma palavra ou de dar nossos conselhos. Em seguida, Jesus explica a eles através dos profetas que esses fatos já estavam mencionados nas escrituras. O coração deles era ardia em fogo ao escutar essas palavras tão esclarecedoras. Jesus nunca nos obriga a algo que não queremos, pois mesmo depois de tudo isso, Ele insinua que irá mais adiante, deixando, dessa forma, os dois discípulos livres para acolher ou não essas palavras. Nós também não podemos forçar que uma pessoa aceite aquilo que ensinamos, mas apenas fazer como o semeador que joga a semente no solo e deixa que ela mesma germine.
Os discípulos, mais que depressa, oram a Jesus de forma brilhante: “Fica conosco, já é tarde e a noite se aproxima”. Os dois sentiram que junto àquele homem haveria luz e não trevas e que era bom ficar na presença dele, mesmo eles não sabendo que era ele. Uma cordialidade é convidar para a mesa, e foi isso que os dois fizeram. Jesus tomando o pão em suas mãos faz os mesmos gestos da última Ceia, abençoa e parte. Provavelmente esses dois discípulos não estavam na Ceia com os apóstolos, mas ouviram dos apóstolos como tinha sido esse momento tão especial com o mestre. Então, seus olhos se abrem e O reconhecem. Eis que agora acreditam na palavra dos apóstolos, acreditam que Jesus não está morto e que tudo aquilo era a mais pura verdade.
Jesus desapareceu da frente deles: Aqui o evangelista Lucas quer nos ensinar que no momento em que temos a Fé, no momento em que acreditamos na presença viva de Cristo na Eucaristia, não temos mais a necessidade de ver, com os olhos carnais, a Pessoa de Jesus. A Eucaristia nos dá essa força, nos dá esse novo ânimo em nossa caminhada. Os discípulos de Emaús sentem-se agora renovados por esse alimento que nunca acaba e fazem o caminho de volta. Esse alimento nos faz missionários. Era noite, mas isso não é mais impedimento para refazer o caminho, reencontrar os Apóstolos em Jerusalém, reencontrar-se com a Tradição Apostólica e aprender a verdadeira mensagem de Cristo.
Encontrando reunidos os onze Apóstolos escutaram: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente e apareceu a Simão”. Pedro aqui é o aquele a quem Jesus confiou esse rebanho, a quem Jesus entregou a responsabilidade de transmitir essa Fé e esses fatos.
Queira Deus que nós sempre retomemos nosso caminho. Queira Deus que nós sempre estejamos impelidos para a conversão de coração. Queira Deus que nós nunca optemos em ficar nas trevas e sem Jesus.
                 “Fica conosco” Senhor!
Pedro Debarba

quarta-feira, 31 de maio de 2017

A divina maternidade de Maria (Maria mãe de Deus)

O ÍCONE DA VIRGEM DE VLADIMIR
Diante das inúmeras investidas contra Maria, Mãe de Jesus, é bom reler a Audiência Geral do Papa Bento XVI proferida em 2 de janeiro de 2008 sobre "Maria Mãe de Deus" Theotókos:

"Amados irmãos e irmãs!
Uma fórmula de bênção muito antiga, referida no Livro dos Números, recita: "Que o Senhor te abençoe e te proteja! Que o Senhor faça resplandecer a Sua face sobre ti e te seja benevolente! Que o Senhor dirija o seu olhar para ti e te conceda a paz!" (6, 24-26). Com estas palavras que a liturgia nos fez ouvir ontem, [01/01/2008], gostaria de formular cordiais bons votos a vós, aqui presentes, e a quantos durante estas festas de Natal me manifestaram confirmações de afetuosa proximidade espiritual.
Ontem, [01/01], celebramos a solene festa de Maria, Mãe de Deus. "Mãe de Deus", Theotókos, é o título atribuído oficialmente a Maria no século V, exatamente no Concílio de Éfeso de 431, confirmado pela devoção do povo cristão já a partir do século III, no contexto dos intensos debates daquele período sobre a pessoa de Cristo. Com aquele título ressaltava-se que Cristo é Deus e nasceu realmente de Maria como homem: na verdade, por mais que o debate parecesse verter sobre Maria, ele dizia respeito essencialmente ao Filho. Querendo salvaguardar a plena humanidade de Jesus, alguns Padres sugeriam uma palavra menos forte: em vez do título de Theotókos, propunham o de Christotókos, "Mãe de Cristo"; mas justamente esta sugestão foi vista como uma ameaça à doutrina da plena unidade da divindade com a humanidade de Cristo. Por isso, depois do amplo debate, no Concílio de Éfeso de 431, como disse, foi solenemente confirmada, por um lado, a unidade das duas naturezas, a divina e a humana, na pessoa do Filho de Deus (cf. DS, n. 250) e, por outro, a legitimidade da atribuição à Virgem do título de Theotókos, Mãe de Deus (ibid., n.251).
Depois deste Concílio registrou-se uma verdadeira explosão de devoção mariana e foram construídas numerosas igrejas dedicadas à Mãe de Deus. Entre elas sobressai a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. A doutrina relativa à Maria, Mãe de Deus, encontrou, além disso, nova confirmação no Concílio de Calcedônia (451) no qual Cristo foi declarado "verdadeiro Deus e verdadeiro homem (...) nascido de Maria Virgem e Mãe de Deus, na sua humanidade, para nós e para a nossa salvação" (DS, n. 301). Como se sabe, o Concílio Vaticano II reuniu num capítulo da Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium, o oitavo, a doutrina sobre Maria, reafirmando a sua divina maternidade. O capítulo intitula-se: "A Bem-Aventurada Virgem, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja".
A qualificação de Mãe de Deus, tão profundamente ligada às festividades do Natal, é o apelativo fundamental com o qual a Comunidade dos crentes honra, poderíamos dizer, desde sempre a Virgem Santa. Ela exprime bem a missão de Maria na história da salvação. Todos os outros títulos atribuídos a Nossa Senhora encontram o seu fundamento na sua vocação para ser Mãe do Redentor, a criatura humana eleita por Deus para realizar o plano de salvação, centrado no grande mistério da encarnação do Verbo divino. Nestes dias de festa detemo-nos para contemplar no presépio a representação da Natividade. No centro deste cenário encontramos a Virgem Mãe que oferece o Menino Jesus à contemplação de quantos vão adorar o Salvador: os pastores, o povo pobre de Belém, os Magos que vieram do Oriente. Mais tarde, na festa da "Apresentação do Senhor", que celebraremos a 2 de Fevereiro, serão o velho Simeão e a profetisa Ana que receberão das mãos da Mãe o pequeno Menino e O adorarão. A devoção do povo cristão considerou sempre o nascimento de Jesus e a maternidade divina de Maria como dois aspectos do mesmo mistério da encarnação do Verbo divino e por isso nunca considerou a Natividade como algo do passado. Nós somos "contemporâneos" dos pastores, dos magos, de Simeão e de Ana, ao irmos com eles estamos cheios de alegria, porque Deus quis ser o Deus conosco e tem uma mãe, que é a nossa mãe.
Do título de "Mãe de Deus" derivam depois todos os outros títulos com que a Igreja honra Nossa Senhora, mas este é o fundamental. Pensemos no privilégio da "Imaculada Conceição", isto é, no fato de Ela ser imune ao pecado desde a sua conceição: Maria foi preservada de qualquer mancha de pecado porque devia ser a Mãe do Redentor. O mesmo é válido para o título da "Assunção": Aquela que tinha gerado o Salvador não podia estar sujeita à corrupção derivante do pecado original. E sabemos que todos estes privilégios não são concedidos para afastar de nós Maria, mas ao contrário, para a tornar mais próxima; de fato, estando totalmente com Deus, esta Mulher está muito próxima de nós e ajuda-nos como mãe e como irmã. Também o lugar único e irrepetível que Maria ocupa na Comunidade dos crentes deriva desta sua vocação fundamental para ser a Mãe do Redentor. Precisamente como tal, Maria é também a Mãe do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Justamente por isso, durante o Concílio Vaticano II, a 21 de Novembro de 1964, Paulo VI atribuiu solenemente a Maria o título de "Mãe da Igreja".
Precisamente porque é Mãe da Igreja, a Virgem é também Mãe de cada um de nós, que somos membros do Corpo místico de Cristo. Da Cruz Jesus confiou a Mãe a cada um dos seus discípulos e, ao mesmo tempo, confiou cada discípulo ao amor da sua Mãe. O evangelista João conclui a breve e sugestiva narração com as palavras: "E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-A em sua casa" (Lc 19, 27). É assim a tradução italiana do texto grego: "εiς tά íδια", ele recebeu-a na sua própria realidade, no seu próprio ser. Desta forma, faz parte da sua vida e as duas vidas compenetram-se; e este aceitá-la (εiς tά íδια) na própria vida é o testamento do Senhor. Portanto, no momento supremo do cumprimento da missão messiânica, Jesus deixa a cada um dos seus discípulos, como herança preciosa, a sua própria Mãe, a Virgem Maria.

Queridos irmãos e irmãs, nestes primeiros dias do ano, somos convidados a considerar atentamente a importância da presença de Maria na vida da Igreja e na nossa existência pessoal. Confiemo-nos a ela para que guie os nossos passos neste novo período de tempo que o Senhor nos concede viver, e nos ajude a ser autênticos amigos do seu Filho e desta forma também artífices corajosos do seu Reino no mundo, Reino da luz e da verdade. [...] Que o novo ano, que iniciou sob o sinal da Virgem Maria, nos faça sentir mais vivamente a sua presença materna, de forma que, amparados e confortados pela proteção da Virgem, possamos contemplar com um renovado olhar o rosto do seu Filho Jesus e caminhar mais rapidamente pelas estradas do bem.
*Grifos meus
*Pedro Debarba
DS: H. Denzinger - A. Schönmetzer, Enchiridion Symbolorum, Definitionum et Declarationum de Rebus Fidei et Morum, Editio XXXV emendata, Romae 1973 

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Domingo de Ramos: doce e amargo

     "E este Jesus, que aceita ser aclamado, mesmo sabendo que O espera o 'crucifica-o!', não nos pede para O contemplarmos apenas nos quadros, nas fotografias, ou nos vídeos que circulam na rede. Não. Está presente em muitos dos nossos irmãos e irmãs que hoje, sim hoje, padecem tribulações como Ele: sofrem com um trabalho de escravos, sofrem com os dramas familiares, as doenças... Sofrem por causa das guerras e do terrorismo, por causa dos interesses que se movem por detrás das armas que não cessam de matar.       
     Homens e mulheres enganados, violados na sua dignidade, descartados.... Jesus está neles, em cada um deles, e com aquele rosto desfigurado, com aquela voz rouca, pede para ser enxergado, reconhecido, amado.
       Não há outro Jesus: é o mesmo que entrou em Jerusalém por entre o acenar de ramos de palmeira e oliveira. É o mesmo que foi pregado na cruz e morreu entre dois malfeitores. Não temos outro Senhor para além d’Ele: Jesus, humilde Rei de justiça, misericórdia e paz." (Papa Francisco, Domingo de Ramos, 09/04/2017)

Confira a Homilia do Papa Francisco no link abaixo: