Como são documentos muito antigos, é difícil dizer
com certeza seus reais autores!
A Bíblia
contém 73 livros, que contemplam o Primeiro e o Segundo Testamento.
Estamos
falando do maior best-seller da história da humanidade, a Bíblia Sagrada, a
qual já foi traduzida para quase 3 mil idiomas, e com mais de 3,9 bilhões de
exemplares já vendidos no mundo.
Mas quem
foram os autores que escreveram esses textos?
Considerando que são documentos
muito antigos e anteriores à noção contemporânea de autoria, é difícil dar certeza. Pois no âmbito religioso a Bíblia é inspiração divina, através do
Espírito Santo. Por outro
lado, uma teologia acadêmica não está preocupada com isso e procura analisar o
aparecimento desses documentos dentro do tempo histórico.
Neste
sentido, podemos entender os primeiros livros da Bíblia, aqueles que compõem o
chamado Pentateuco ou a Torah (Lei), como um compilado de textos que começaram
a ser escritos por volta de 1 mil anos antes da era Cristã.
São eles:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, textos que narram desde a
criação do mundo até a morte de Moisés.
- A Torah
Pela
tradição religiosa, estes cinco livros teriam sido escritos por um único homem,
Moisés.
Há duas
abordagens possíveis: A da sinagoga diz que quem escreveu a Torah foi Moisés e
ponto final; já o viés científico, descarta a ideia de uma autoria única para
estes livros.
Do ponto
de vista do estudo bíblico, estamos falando de mais de 600 anos de redação.
Com uma
análise minuciosa dos documentos permite agrupá-los pelo estilo, pelo
vocabulário e pelas concepções em blocos associados a diferentes redatores em
diferentes momentos históricos.
Sobre
épocas e autores é muito complicado falar porque isso se perde no tempo.
Investigações acadêmicas concluem que esses textos têm de 2,7 mil a 3 mil anos
e, eventualmente, mais do que isso, já que eram transmitidos de maneira oral.
Estes
textos foram canonizados, ou seja, reunidos e considerados integrantes da
Bíblia hebraica, por volta do século 4 a.C.
Mas mesmo
aí há muitas discussões, e não dá para fechar o assunto. Se forem 600 anos de
escrita, quantas pessoas podem ter mexido no texto, criado pedaços em uma
região, pedaços em outra?
Em um
tempo em que a própria noção de “autoria” era completamente diferente, este
mesmo padrão de dificuldade de legitimar quem realmente escreve prossegue nos demais
livros da Bíblia hebraica, conjunto que forma o Antigo Testamento da versão
cristã.
Por
exemplo, os Salmos de Davi são textos que trazem os cânticos que Davi fazia no
templo. Mas não temos como garantir que todos os Salmos foram escritos/cantados
por Davi.
Evidentemente
que foram vários os autores dos textos bíblicos.
As
histórias que hoje compõem o texto escrito, antes eram transmitidas de geração
em geração de maneira oral. E aquilo permanecia como um tesouro cultural
religioso daquele povo.
Precisamos
ainda observar que a noção de autoria na Antiguidade não é a mesma que temos
hoje em dia. Naquela época, era comum atribuir um texto a uma grande liderança,
a um líder carismático, a uma pessoa muito importante. Isso acabaria dando
relevância ao escrito.
Neste
sentido, seguidores de determinadas doutrinas, quando transformavam o
conhecimento em documentos, costumavam sistematizá-los como se fossem algo
escrito diretamente por seus mestres.
No caso
da Torah, quer dizer que são todos textos de Moisés? Provavelmente que não.
Talvez ele tenha tido alguma participação. Mas são textos atribuídos a Moisés.
- Literatura aplicada à Bíblia
Faz muito
mais sentido que os livros sagrados do Antigo Testamento tenham sido escritos, depois
do estabelecimento do Estado de Israel do que durante os episódios ali
narrados, como a fuga do povo hebreu do Egito, sob o comando de Moisés. Imagina
um grupo de pessoas perambulando pelo deserto. O que eles menos vão se
preocupar é sentar para escrever. Quem está andando no deserto quer, na
verdade, sobreviver. Em tantos anos, eles precisavam criar uma estrutura bélica
para poder tomar a terra… Ninguém estava preocupado em ficar escrevendo texto.
Mas eram
ainda histórias soltas, de gêneros literários diversos, que depois acabaram
sendo amarradas, costuradas, por um ou mais redatores.
- Novo Testamento
A
literatura também pode ser aplicada na análise dos evangelhos, atribuídos a
Mateus, Marcos, Lucas e João. Nesse caso podemos afirmar que os autores foram
mesmo esses quatro homens. Lembrando que dois de seus autores, Mateus e João,
foram apóstolos de Jesus. Os outros dois, Marcos e Lucas, construíram a
narrativa colhendo os testemunhos dos apóstolos. Marcos é considerado um autor
com estilo mais pedestre, com linguagem direta, mais simples. João tem uma
linguagem complexa, mais figurada, cheia de simbolismos. Lucas tem uma
linguagem mais aprimorada, mais sofisticada.
Se no
Antigo Testamento há mais interrogações do que certezas no campo das autorias,
os textos do Novo Testamento, embora mais recentes e com "autorias"
descritas na maior parte deles, também despertam questionamentos.
É certo
que todos esses textos começaram a ser produzidos cerca de 30 ou 40 anos após a
morte de Jesus. Muito provavelmente, todos esses nomes foram estabelecidos pela
tradição da Igreja.
Não há
nos documentos mais antigos o título nem o nome do autor.
O que
parece inquestionável é que o primeiro dos evangelhos é o de Marcos. No momento
em que há uma geração, aquela que acompanhou pessoalmente a vida de Jesus,
morrendo, há a necessidade de preservar de maneira escrita o que aconteceu.
Então ele começa um gênero literário novo que é o evangelho.
Coletando
tradições e relatos orais, este evangelista sistematiza a narrativa de Jesus.
Mas só usa a parte que naquele momento interessava: ou seja, não se preocupa em
falar do nascimento ou da infância de Jesus; foca em sua missão, em sua morte,
em sua mensagem de Páscoa.
Ele é
muito objetivo e produz um evangelho muito enxuto. Há indícios de que Marcos
era um seguidor do apóstolo Pedro. Mas outros vão dizer que era discípulo de
Paulo. De qualquer forma, o que sabemos é que não foi um apóstolo de Jesus,
direto.
O
evangelho de João também suscita dúvidas. Isto porque o texto fala em um
"discípulo amado", e a tradição diz que este era João. Mas há teólogos
que afirmam que talvez seja Lázaro, porque no evangelho há uma pista que diz
que Jesus chorou 'e veja como ele o amava'.
Só no
segundo século é que os cristãos passam a atribuir a autoria deste texto a
João.
A
tradição consagrou, e até hoje chamamos de João. Mas não é fácil saber quem
escreveu, talvez até tenha sido uma obra coletiva, uma obra da comunidade
joanina.
O melhor
é assumir a ideia de que se trata de "evangelhos segundo" cada um
destes nomes, em vez de encará-los como autores, no sentido contemporâneo do
termo.
- Cartas
Mas se o
assunto é o Novo Testamento, é preciso ressaltar o papel de Paulo, o apóstolo
que escreveu diversas cartas para as primeiras comunidades cristãs.
As cartas
de Paulo, como o nome já evidencia, [foram escritas] por Paulo e seguidores de
Paulo. A carta a Timóteo, por exemplo, muito provavelmente é posterior a Paulo,
por isso é considerada por alguns estudiosos como sendo deuteropaulina.
Há,
porém, controvérsias em relação às cartas atribuídas a Pedro que, ao que tudo
indica, não foram escritas diretamente por ele. E a carta aos Hebreus não foi
escrita nem por Paulo e muito menos por Pedro.
Entende-se
que Paulo tenha sido o primeiro a escrever sobre Jesus, a partir do ano 57 ou
58. A grande questão é saber se ele tinha consciência de que estava escrevendo um
texto sagrado. Provavelmente que não.
Ele
estava usando de um recurso para se comunicar com igrejas e deixa suas epístolas.
Algumas se perderam, algumas que hoje chamamos de suas epístolas podem ter sido
escritas por discípulos dele, mas fazem parte de um círculo paulino.
Quando
falamos das cartas de Pedro, muito provavelmente é do círculo petrino, até
porque Pedro não sabia escrever, e ele deixa isso claro em sua [primeira]
carta. Ele usa um redator para escrever. Provavelmente ditou a uma auxiliar que se chamava Silvano.
- Enfim...
Dessa
maneira, vemos que diversos foram os escritores sagrados e que alguns deles
nunca saberemos ao certo quem foram.
Mas uma certeza é que os textos foram
inspirados por Deus e são Palavras de Deus!