segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Os 4 temperamentos

 Vi muitos “influencers” católicos propagando os 4 temperamentos: Colérico, Sanguíneo, Fleumático e Melancólico. Pois bem, existe algo científico e filosófico por detrás dessa teoria. Não podemos ignorar totalmente, pois é um modo de perceber-se e de perceber o outro. Porém, temos que ter um pouco de cuidado ao tratar desse assunto no âmbito religioso pois esbarra no projeto do Reino de Deus revelado por Jesus Cristo. Explico!

Os temperamentos são fenômenos biológicos responsáveis pelos nossos comportamentos, perfeito! Mas isso pode soar como uma justificativa de nossas atitudes e algumas vezes atitudes não cristãs. “Fiz isso porque sou colérico”. Muita calma nessa hora, pois Jesus deixa muito claro quais as atitudes de uma pessoa que está em busca do Reino de Deus. Nossas atitudes devem ser pautados pelo amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, independente do meu temperamento.

Outro receio são os testes que buscam definir qual temperamento ou quais traços temperamentais estão presentes em sua personalidade! De novo peço muita calma! Enquadrar uma pessoa em uma definição fechada é perigoso pois novamente posso me utilizar disso como justificava de más ações. Aqui recordo as atitudes de Jesus perante várias pessoas que vieram até Ele ou foram trazidas até Ele, pessoas essas já rotuladas pela sociedade, rotuladas por suas atitudes.

Caros irmãos e irmãs, ao chegar a hora de sua passagem à Vida Eterna não irá ajudar justificar certas atitudes suas baseando-se nos 4 temperamentos! Cuidado! Muito cuidado nessa hora!

(texto em construção...)

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O que significa ser frio ou quente em Apocalipse 3,15?

Este é um texto dos sete escritos às sete igrejas que constam em Apocalipse. Eles mostram uma visão de Jesus Cristo sobre os pontos positivos e negativos delas.

Esse versículos é um dos detalhes escrito a igreja de Laodiceia.

Primeiro ponto - O que chama a atenção nas falas de Jesus à igreja de Laodiceia é que ela não recebe nenhum elogio do mestre, apenas críticas.

De fato, a situação dos que ali moravam não era boa. Jesus começa sua série de repreensões, dizendo: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!” (Apocalipse 3,15).

É interessante notar que Jesus diz “conheço”. Ele é aquele que conhecia por dentro, por trás das máscaras, no interior, além das aparências.

Ele conhecia a essência daqueles cristãos, sabia o que estava em seus corações naquele momento e o que os havia levado a desagradar ao Senhor!

Segundo ponto - A citação de “frio ou quente” é bastante intrigante. O que conseguimos perceber de início é que não tem nada a ver com serem “cristãos quentes” ou “cristãos frios” no que se refere ao fervor espiritual.

Como poderia um cristão ser frio? Observe que no versículo 16 ele os critica por serem “mornos” e no versículo 15 orienta que sejam ou “quentes” ou “frios”, portanto, não temos aqui uma indicação de fervor ou frieza espiritual.

Terceiro ponto - É importante conhecer um pouco do contexto da cidade de Laodiceia. Toda essa figura usada por Jesus possivelmente se refira a água que os moradores da cidade tinham à disposição.

Por receber água vinda de fontes distantes, conectadas à cidade por longos tubos, a água chegava ali morna. Você já bebeu água morna? É horrível!

Por outro lado, tínhamos naquela região cidades como Hierápolis, que tinha águas quentes e medicinais. Colossos, outra cidade ali próxima, tinha águas frescas e geladas que desciam das montanhas e, por isso, muito apreciadas.

Quarto ponto - Dessa forma, é possível que Cristo esteja usando essa desagradável água da cidade para exortar essa igreja.

Ao invés de ser morna, como as águas que ali chegavam, eles deveriam ser quentes e medicinais como as águas de Hierápolis ou frescos e refrescantes como as águas de Colossos.

O foco do erro desses cristãos é explicado a partir de Apocalipse 3,17: “pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu”.

Essa igreja havia se acomodado, fechou-se no seu poder financeiro, orgulho, egoísmo, distanciando-se do verdadeiro evangelho e de Jesus Cristo.

Ela não fazia mais a diferença (sendo igreja de Cristo) onde estava, era morna, intragável, causava ânsias!

Quinto ponto - Quando Jesus deseja que essa igreja fosse quente ou fria a está chamando a uma mudança. A fazer a diferença, a transformar-se.

Jesus chama os irmãos dessa igreja a “comprar” o que de fato tem valor. Eles tinham muito dinheiro, podiam comprar muita coisa no mundo, mas se esqueceram que os tesouros que realmente permanecem são os tesouros nos céus (Mateus 6,19-20). Por isso, Jesus diz a eles:

“Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, veses brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez…” (Apocalipse 3,18).

A mudança verdadeira só viria se eles voltassem novamente toda sua vida para Cristo!

Sexto ponto - O mais interessante é que essa crítica pesada feita por Jesus tinha o objetivo de discipliná-los para um retorno à verdade, mostrando a misericórdia e o amor do Senhor por eles: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Apocalipse 3,19).

Corremos o risco de nos transformar em cristãos “mornos”, por isso, precisamos sempre verificar em nossas vidas como está nossa conexão com Cristo, a fim de não permitir que o morno faça parte da nossa vida e sejamos para o Senhor um incômodo que cause náuseas e ânsia de vômito Nele!

Antes, como as águas quentes medicinais, ou como as águas frescas prazerosas que matam a sede, devemos fazer diferença positivamente sendo servos do Senhor fiéis a Ele e à missão que Ele nos deu a cumprir!

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Quem foram os escritores da Bíblia?

 Como são documentos muito antigos, é difícil dizer com certeza seus reais autores!
Bíblia Sagrada

 A Bíblia contém 73 livros, que contemplam o Primeiro e o Segundo Testamento.

Estamos falando do maior best-seller da história da humanidade, a Bíblia Sagrada, a qual já foi traduzida para quase 3 mil idiomas, e com mais de 3,9 bilhões de exemplares já vendidos no mundo.

Mas quem foram os autores que escreveram esses textos?

Considerando que são documentos muito antigos e anteriores à noção contemporânea de autoria, é difícil dar certeza. Pois no âmbito religioso a Bíblia é inspiração divina, através do Espírito Santo. Por outro lado, uma teologia acadêmica não está preocupada com isso e procura analisar o aparecimento desses documentos dentro do tempo histórico.

Neste sentido, podemos entender os primeiros livros da Bíblia, aqueles que compõem o chamado Pentateuco ou a Torah (Lei), como um compilado de textos que começaram a ser escritos por volta de 1 mil anos antes da era Cristã.

São eles: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, textos que narram desde a criação do mundo até a morte de Moisés.

- A Torah

Pela tradição religiosa, estes cinco livros teriam sido escritos por um único homem, Moisés.

Há duas abordagens possíveis: A da sinagoga diz que quem escreveu a Torah foi Moisés e ponto final; já o viés científico, descarta a ideia de uma autoria única para estes livros.

Do ponto de vista do estudo bíblico, estamos falando de mais de 600 anos de redação.

Com uma análise minuciosa dos documentos permite agrupá-los pelo estilo, pelo vocabulário e pelas concepções em blocos associados a diferentes redatores em diferentes momentos históricos.

Sobre épocas e autores é muito complicado falar porque isso se perde no tempo. Investigações acadêmicas concluem que esses textos têm de 2,7 mil a 3 mil anos e, eventualmente, mais do que isso, já que eram transmitidos de maneira oral.

Estes textos foram canonizados, ou seja, reunidos e considerados integrantes da Bíblia hebraica, por volta do século 4 a.C.

Mas mesmo aí há muitas discussões, e não dá para fechar o assunto. Se forem 600 anos de escrita, quantas pessoas podem ter mexido no texto, criado pedaços em uma região, pedaços em outra?

Em um tempo em que a própria noção de “autoria” era completamente diferente, este mesmo padrão de dificuldade de legitimar quem realmente escreve prossegue nos demais livros da Bíblia hebraica, conjunto que forma o Antigo Testamento da versão cristã.

Por exemplo, os Salmos de Davi são textos que trazem os cânticos que Davi fazia no templo. Mas não temos como garantir que todos os Salmos foram escritos/cantados por Davi.

Evidentemente que foram vários os autores dos textos bíblicos.

As histórias que hoje compõem o texto escrito, antes eram transmitidas de geração em geração de maneira oral. E aquilo permanecia como um tesouro cultural religioso daquele povo.

Precisamos ainda observar que a noção de autoria na Antiguidade não é a mesma que temos hoje em dia. Naquela época, era comum atribuir um texto a uma grande liderança, a um líder carismático, a uma pessoa muito importante. Isso acabaria dando relevância ao escrito.

Neste sentido, seguidores de determinadas doutrinas, quando transformavam o conhecimento em documentos, costumavam sistematizá-los como se fossem algo escrito diretamente por seus mestres.

No caso da Torah, quer dizer que são todos textos de Moisés? Provavelmente que não. Talvez ele tenha tido alguma participação. Mas são textos atribuídos a Moisés.

- Literatura aplicada à Bíblia

Faz muito mais sentido que os livros sagrados do Antigo Testamento tenham sido escritos, depois do estabelecimento do Estado de Israel do que durante os episódios ali narrados, como a fuga do povo hebreu do Egito, sob o comando de Moisés. Imagina um grupo de pessoas perambulando pelo deserto. O que eles menos vão se preocupar é sentar para escrever. Quem está andando no deserto quer, na verdade, sobreviver. Em tantos anos, eles precisavam criar uma estrutura bélica para poder tomar a terra… Ninguém estava preocupado em ficar escrevendo texto.

Mas eram ainda histórias soltas, de gêneros literários diversos, que depois acabaram sendo amarradas, costuradas, por um ou mais redatores.

- Novo Testamento

A literatura também pode ser aplicada na análise dos evangelhos, atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João. Nesse caso podemos afirmar que os autores foram mesmo esses quatro homens. Lembrando que dois de seus autores, Mateus e João, foram apóstolos de Jesus. Os outros dois, Marcos e Lucas, construíram a narrativa colhendo os testemunhos dos apóstolos. Marcos é considerado um autor com estilo mais pedestre, com linguagem direta, mais simples. João tem uma linguagem complexa, mais figurada, cheia de simbolismos. Lucas tem uma linguagem mais aprimorada, mais sofisticada.

Se no Antigo Testamento há mais interrogações do que certezas no campo das autorias, os textos do Novo Testamento, embora mais recentes e com "autorias" descritas na maior parte deles, também despertam questionamentos.

É certo que todos esses textos começaram a ser produzidos cerca de 30 ou 40 anos após a morte de Jesus. Muito provavelmente, todos esses nomes foram estabelecidos pela tradição da Igreja.

Não há nos documentos mais antigos o título nem o nome do autor.

O que parece inquestionável é que o primeiro dos evangelhos é o de Marcos. No momento em que há uma geração, aquela que acompanhou pessoalmente a vida de Jesus, morrendo, há a necessidade de preservar de maneira escrita o que aconteceu. Então ele começa um gênero literário novo que é o evangelho.

Coletando tradições e relatos orais, este evangelista sistematiza a narrativa de Jesus. Mas só usa a parte que naquele momento interessava: ou seja, não se preocupa em falar do nascimento ou da infância de Jesus; foca em sua missão, em sua morte, em sua mensagem de Páscoa.

Ele é muito objetivo e produz um evangelho muito enxuto. Há indícios de que Marcos era um seguidor do apóstolo Pedro. Mas outros vão dizer que era discípulo de Paulo. De qualquer forma, o que sabemos é que não foi um apóstolo de Jesus, direto.

O evangelho de João também suscita dúvidas. Isto porque o texto fala em um "discípulo amado", e a tradição diz que este era João. Mas há teólogos que afirmam que talvez seja Lázaro, porque no evangelho há uma pista que diz que Jesus chorou 'e veja como ele o amava'.

Só no segundo século é que os cristãos passam a atribuir a autoria deste texto a João.

A tradição consagrou, e até hoje chamamos de João. Mas não é fácil saber quem escreveu, talvez até tenha sido uma obra coletiva, uma obra da comunidade joanina.

O melhor é assumir a ideia de que se trata de "evangelhos segundo" cada um destes nomes, em vez de encará-los como autores, no sentido contemporâneo do termo.

- Cartas

Mas se o assunto é o Novo Testamento, é preciso ressaltar o papel de Paulo, o apóstolo que escreveu diversas cartas para as primeiras comunidades cristãs.

As cartas de Paulo, como o nome já evidencia, [foram escritas] por Paulo e seguidores de Paulo. A carta a Timóteo, por exemplo, muito provavelmente é posterior a Paulo, por isso é considerada por alguns estudiosos como sendo deuteropaulina.

Há, porém, controvérsias em relação às cartas atribuídas a Pedro que, ao que tudo indica, não foram escritas diretamente por ele. E a carta aos Hebreus não foi escrita nem por Paulo e muito menos por Pedro.

Entende-se que Paulo tenha sido o primeiro a escrever sobre Jesus, a partir do ano 57 ou 58. A grande questão é saber se ele tinha consciência de que estava escrevendo um texto sagrado. Provavelmente que não.

Ele estava usando de um recurso para se comunicar com igrejas e deixa suas epístolas. Algumas se perderam, algumas que hoje chamamos de suas epístolas podem ter sido escritas por discípulos dele, mas fazem parte de um círculo paulino.

Quando falamos das cartas de Pedro, muito provavelmente é do círculo petrino, até porque Pedro não sabia escrever, e ele deixa isso claro em sua [primeira] carta. Ele usa um redator para escrever. Provavelmente ditou a uma auxiliar que se chamava Silvano.

- Enfim...

Dessa maneira, vemos que diversos foram os escritores sagrados e que alguns deles nunca saberemos ao certo quem foram.

Mas uma certeza é que os textos foram inspirados por Deus e são Palavras de Deus!



terça-feira, 31 de maio de 2022

Cinco pontos chaves do Documento de Aparecida (CELAM V)

 Cinco pontos chaves do Documento de Aparecida (CELAM V)

1 – Batismo como a base do ser cristão e experiência eclesial; pelo Batismo todos somos discípulos e missionários de Jesus Cristo em sua Igreja;

2 – Uma Igreja em estado permanente de missão; Igreja em saída; Igreja que se faz presente no mundo, levando o Reino de Deus a todos;

3 – Conversão pastoral da Igreja (Santo Domingo 30); Conversão no âmbito das ações perante os novos desafios; Conversão no âmbito de poder; Conversão no âmbito de estruturas;

4 – Cada comunidade eclesial precisa ser um centro irradiador do Reino da vida; Igreja é mediação do Reino de Deus; missão centrífuga e não centrípeta; Semear, frutificar;

5 – Igreja samaritana (Paulo VI) e advogada dos pobres (opção pelos pobres Medelin, preferencial pelos pobres Puebla); Não é opção contra o rico, mas que o rico ajuda a promover a inclusão dos pobres;

6 – Itinerário do discipulado missionário; Qual o caminho que o discípulo missionário deve fazer? Encontro pessoal com Jesus; Conversão pessoal; Mudança de vida integral;


Pedro Debarba - Teólogo


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Igreja em serviço à sociedade

Por Pe. Antonio Manzatto*

O Vaticano II compreende a Igreja presente no mundo como servidora dele na proclamação da boa-nova da salvação em Jesus Cristo. O papa Francisco retoma esse ensinamento, lembrando que o mundo todo precisa ser salvo, e por isso a confissão de fé e a ação eclesial têm uma dimensão social que lhes é inerente e precisa ser realizada como contribuição dos cristãos na construção de uma sociedade de paz.
“Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (EG 176).

1. Igreja e mundo
Na Antiguidade, a Igreja enxergava sua relação com o mundo como uma relação de oposição. Isso transparece no período da Igreja primitiva e também na época patrística. Por mundo se entende, evidentemente, não o universo físico, mas sobretudo o social. Falando de uma Igreja contra o mundo, fala-se de uma Igreja contra a sociedade tal qual organizada naquela época. E não é difícil entender o porquê, pois, afinal, se vivia o início do cristianismo em ambiente de confrontação e mesmo de perseguições, sobretudo por parte do Império Romano. Daí que ser contra o mundo era uma postura quase natural dos cristãos, que proclamavam que Jesus é o Senhor, e não César. A evolução do tempo e da história faz também evoluir a compreensão que a Igreja tem de sua relação com o mundo. No período medieval, então, haverá uma espécie de identificação entre Igreja e mundo, não apenas porque o cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano e dos Estados que lhe sucederam, mas também porque o mundo todo, ao menos do lado ocidental, passou a ser cristão. Não havia maiores diferenças entre ser cristão e ser cidadão e o batismo era a ocasião em que se oficializava a pertença do indivíduo ao grupo social. Assim, a Igreja era o mundo e o mundo era a Igreja, uma relação de identificação que perdurou praticamente durante todo o período medieval.
O surgimento da modernidade provoca nova organização dessa relação, ainda que de maneira unilateral. O mundo passa a compreender-se como algo diferente da Igreja, isto é, a sociedade começa a organizar-se fora da influência eclesiástica. O símbolo é a Revolução Francesa, da qual decorre a compreensão de que os Estados podem organizar-se como entidades separadas das influências religiosas cristãs. Ainda que não se preconize a laicidade do Estado, que virá a ocorrer mais tarde, ainda assim já na época se compreende a sociedade separada da Igreja. A reação da Igreja foi de insatisfação com essa situação, e seu combate ao modernismo todos conhecemos bem. Ainda hoje há setores na Igreja que combatem essa situação e anseiam pela volta ao regime de cristandade, por motivos igualmente conhecidos.

2. Vaticano II
A separação entre Igreja e mundo faz que o mundo evolua tanto na organização social quanto na capacidade técnica, enquanto a Igreja permanece como que em passo medieval, incapaz de acompanhar os avanços vividos pelas sociedades. A inspirada iniciativa de João XXIII de convocar o Concílio Vaticano II cria uma oportunidade de reaproximação entre a Igreja e a sociedade com seus anseios. A esse empenho eclesial de reencontrar e acompanhar o passo das sociedades humanas chamou-se aggiornamento, atualização. Eis a grande realização do Concílio Vaticano II: possibilitar que a Igreja consiga de novo dialogar com o mundo e a humanidade que o habita. Mais ainda, a Igreja se reconhece, nas palavras da Gaudium et Spes, servidora do mundo, pois não é a Igreja que precisa ser salva, mas o mundo.
Essa noção de Igreja servidora do mundo é que comandará a ação pastoral nos anos seguintes ao concílio, exatamente com a Igreja atentando ao fato de que sua ação é, antes de tudo, pastoral. Por ação pastoral se entendem não apenas as atividades religiosas, como orações e celebrações, e administrativas, próprias da organização eclesiástica, mas também aquelas que se preocupam fundamentalmente com a organização da vida das pessoas e das sociedades. Têm lugar, então, os grupos pastorais que atuam junto ao mundo do trabalho, da cultura, da política e assim sucessivamente. A pastoral é entendida como a ação do pastor, cuja função é cuidar do rebanho. Não é o rebanho que existe em função do pastor, nem é função do rebanho cuidar do bem-estar do pastor. Ao contrário, é o pastor que existe em função do rebanho e deve dele cuidar.
A Igreja vê sua ação como a de cuidado com o mundo, com as pessoas que o integram. É nesse sentido que ela é servidora do mundo e lhe anuncia e testemunha a salvação. As preocupações com as situações concretas vividas pelos povos passam a figurar na agenda da ação pastoral. A paz, o desenvolvimento dos povos, o estabelecimento da justiça entre as nações, as possibilidades com relação ao trabalho, à cultura e o acesso aos benefícios da sociedade são assuntos constantes nos documentos eclesiais e vivos nas preocupações dos pastores. A Igreja abre-se ao mundo, reconhecendo sua autonomia, a autonomia das realidades terrenas, e, por sua vez, o mundo aceita dialogar com a Igreja como uma interlocutora confiável. As preocupações sociais integram o horizonte de preocupações da Igreja, pois “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1).
Paulo VI, o papa que implementou as decisões conciliares, escreveu em 1974 importante documento sobre a ação evangelizadora da Igreja, a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. Ocorre que rapidamente houve queixas no sentido de que a Igreja estaria abandonando sua missão religiosa, anunciar o evangelho, e assumindo um discurso social que não lhe dizia respeito. O papa, então, lembra que “entre evangelização e promoção humana existem laços profundos”, de tal forma que não se pode pensar a evangelização como ação eclesial sem que as preocupações com a promoção humana lhe acompanhem. A preocupação fundamental da Igreja é com o ser humano, com todo homem e o homem todo, para dizer como o papa Paulo VI na EncíclicaPopulorum Progressio. Foi nesse horizonte do Vaticano II que se organizou no Brasil a Campanha da Fraternidade, e atualmente os bispos lhe dão um conteúdo de alcance social, que relaciona a fé com a vida prática das pessoas e promove intensa campanha pela humanização das relações na sociedade. Neste ano de 2015, o tema é como que a compilação disso que até agora dissemos: “Fraternidade, Igreja e sociedade”; o lema, “Eu vim para servir”, lembra o compromisso do serviço dos discípulos de Cristo.

3. O papa Francisco
É convicção de todos que Francisco humanizou o papado. Seus gestos, palavras e preocupações mostram claramente o papa como um ser humano e, mais que isso, como alguém preocupado com as pessoas. Sua postura é intencional e nitidamente pastoral, e seu ensinamento precisa sempre ser entendido nessa direção. Trata-se do pastor que se preocupa com o rebanho, daí sua atenção às periferias existenciais, à prática da misericórdia, a uma Igreja que precisa sempre estar pronta a acolher, perdoar e curar feridas. Uma Igreja que não pode se satisfazer em si mesma, mas precisa missionariamente ir ao encontro do mundo, das pessoas e da sociedade, para ali anunciar e testemunhar o evangelho de Jesus, que Aparecida chamava de evangelho da dignidade humana. A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, documento papal que fala sobre a nova evangelização e alude, propositalmente, aos dois documentos que trazem o ensinamento do Vaticano II sobre a ação eclesial,Gaudium et Spes e Evangelii Nuntiandi, tem um capítulo inteiro dedicado à dimensão social da evangelização. Francisco parece dar um passo além na compreensão da relação entre o anúncio da Igreja e a organização da sociedade. Não se trata de querer impor ao mundo um modelo social, como no período de cristandade. Nem se trata de discurso que quer acomodar a vivência eclesial às situações do mundo contemporâneo. E também não se trata de aceitar, passivamente, um distanciamento entre a Igreja e o mundo. Trata-se de retomar a postura conciliar da Igreja como servidora do mundo pelo anúncio e testemunho profético. Por isso, falando a cristãos, a Evangelii Gaudium afirma que a evangelização tem, mais que consequência, uma dimensão social.
O passo avante é importante. Não se vê simplesmente a ação social de promoção humana como consequência da ação evangelizadora da Igreja, algo que parece ser óbvio. Também não se diz que o trabalho da Igreja não tem nada a ver com a sociedade, como se fosse simplesmente anúncio de verdades e práticas religiosas, das quais a caridade seria como que uma derivação de perfeição. Francisco afirma que a ação social é uma dimensão da ação evangelizadora, de tal forma que não há evangelização sem promoção humana. Não se trata de consequência, mas de composição: a preocupação com a forma de organização da sociedade é componente do trabalho evangelizador. Afinal, lembra ele, não é apenas a pessoa que é salva pela ação de Deus, mas também suas relações (EG 178). Assim, a caridade é constitutiva da essência da Igreja e de sua missão (EG 179), de maneira que, mesmo no querigma, existe um conteúdo social, em forma de convivência e ajuda ao próximo (EG 177). E o papa ainda aponta dois lugares prioritários onde deve se manifestar de maneira decisiva a dimensão social da ação evangelizadora: a realidade de sofrimento dos pobres e a implementação da cultura do diálogo para a vivência da paz.

4. Opção pelos pobres
A opção pelos pobres é mais teológica que política ou sociológica (EG 198) e, por isso, Bento XVI já a caracterizava como implícita na fé cristológica (DAp 392). Trata-se de reconhecer, em primeiro lugar, a presença de Deus no meio dos pobres, onde ele se revela e oferece um caminho de salvação para toda a humanidade. Paulo já a afirmava como critério da fidelidade ao evangelho de Jesus (Gl 2,10), de tal forma que, sem ela, não há verdadeiramente evangelização (EG 199). Por isso, Francisco afirma sonhar com uma Igreja pobre para os pobres (EG 198).
Se, de um lado, não se pode apenas ter atenção à ortodoxia e se preocupar com eventuais erros doutrinais, por outro, a opção pelos pobres não se concretiza apenas em um ativismo expresso em programas de assistência ou promoção humana, mas também em uma presença solidária junto aos pobres (EG 199). É um estar ao seu lado, ser com os pobres, preocupar-se com sua realidade pessoal e humana, em espírito de comunhão e convivência. A Igreja não é alheia ao mundo dos pobres, e estes não podem ser estranhos na comunidade eclesial. O amor aos pobres é que diferencia a opção pelos pobres de qualquer outra prática ideológica, evitando sua instrumentalização (EG 199).
Ainda mais, a opção pelos pobres não se realiza apenas em ações de assistência em suas necessidades.
Elas são necessárias e não podem ser esquecidas, mas não são suficientes. Porque não se trata apenas de alimentá-los ou proporcionar-lhes possibilidades de sobrevivência, mas sobretudo eliminar as desigualdades, a fim de que o mundo possa se constituir em ambiente onde o valor da pessoa humana seja privilegiado. “A dignidade da pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a política econômica” (EG 203), lembra o papa, e as causas da pobreza precisam ser atacadas para que a sociedade seja mais justa e humana (EG 202-206).
A ação cristã se transforma, por isso, em compromisso político que visa transformar não apenas o coração das pessoas, como se isso bastasse para transformar automaticamente as situações de injustiça no mundo.
Deve-se transformar também as bases estruturais da sociedade, e por isso nenhuma comunidade cristã pode ficar alheia à realidade de vida dos pobres. Os discursos vazios, as práticas religiosas não comprometidas ou mesmo as simples críticas ao governo não dizem da qualidade da vida de fé da comunidade eclesial, mas sim seu efetivo compromisso com a realidade de vida dos pobres, em atitude de solidariedade (EG 207). Ou, para dizer em outras palavras, a comunidade cristã morre se não houver em seu interior efetivo compromisso com a vida daqueles que são os últimos da sociedade.

5. Cultura do diálogo
A paz é fruto da justiça, já lembrava Paulo VI, e por isso ela não pode ser entendida como simples ausência de violência ou imposição de silêncio dos mais fortes sobre os mais fracos. Não é o modelo da Pax Romana que deve ser seguido, porque isso não significa verdadeira paz (EG 218). Esta se baseia no respeito à dignidade das pessoas, aos direitos humanos e aos direitos dos povos. Não se deve escamotear os conflitos, mas enfrentá-los com serenidade para que eles possam ser superados.
Por isso Francisco lembra que o estabelecimento da paz não se faz simplesmente na interioridade das pessoas ou no nível interpessoal. Deve-se atingir um nível mais amplo e profundo, aquele da formação da sociedade e da convivência entre os povos. Uma sociedade ou povo não se constitui por simples aglomeração de pessoas, mas por relações estabelecidas entre elas e governadas por princípios que valorizam o bem comum, segundo os ensinamentos da Doutrina Social da Igreja. Por isso o papa ensina que “o tempo é superior ao espaço” (223-225), o que permite pensar a construção social a longo prazo sem a obsessão de resultados imediatos. Ensina ainda que os conflitos não podem ser ocultados, mas “a unidade prevalece sobre o conflito” (EG 226-230), ou seja, em vez da tentativa de impor sobre os outros a solução do grupo que se quer vitorioso, o princípio da unidade exige uma capacidade de convivência na diferença como proposta de solidariedade.
Além disso, “a realidade é mais importante que a ideia” (EG 231-233), isto é, o pensamento está a serviço da compreensão da realidade e não pode ocultá-la, como acontece com “os purismos angélicos, os totalitarismos do relativo, os nominalismos declaracionistas, os projetos mais formais que reais, os fundamentalismos anti-históricos, os eticismos sem bondade, os intelectualismos sem sabedoria” (EG 231).
Finalmente, Francisco lembra que “o todo é superior à parte” (EG 234-237), com a proeminência do bem comum sobre os possíveis benefícios particulares, sabendo que se deve trabalhar naquilo que é local e particular, mas com perspectiva ampla de universalização e de totalidade.
Estes são princípios que norteiam o diálogo social e, ademais, o trabalho de evangelização. Não se constrói a paz sem a cultura do diálogo. Para a ação eclesial propriamente dita, ele aponta três campos imprescindíveis na atualidade: o diálogo com os Estados, com a sociedade e com os que não são católicos (EG 238). Nesse diálogo, a Igreja fala a partir de seu lugar específico, o da experiência da fé, sem se apresentar como portadora de soluções para todas as questões da humanidade. Ela participa deste encontro com sua história e sua experiência, juntando-se a outras forças sociais e acompanhando as propostas que melhor se apresentam no momento, lembrando sempre a permanência dos princípios da dignidade humana e do bem comum (EG 139). A postura dialogal da Igreja é importante no contexto atual até para ela mesma, pois significa a superação da perspectiva de cristandade, na qual o religioso tem a solução para cada questão e a sociedade se organiza à luz de seus princípios ou definições. Hoje a sociedade é plural e, como a construção da paz não se faz por imposição, deve-se cultivar espaços de encontro e interação sobre os diferentes pontos de vista e propostas. A perspectiva é de diálogo amplo, que se estabelece com todos, com “a gente e sua cultura, e não com uma classe, uma fração, um grupo ou uma elite”, pois o que se busca não é a formação de “uma minoria esclarecida ou um grupo testemunhal […] mas um pacto social e cultural” (EG 239). O que se quer não é uma solução universal, já que ela será sempre parcial e contextualizada, nem uma apresentação de verdades conceituais que se querem impor por proselitismo, mas uma espécie de consenso que possibilite a convivência em paz, a fim de que se possa avançar na integração social de todos. Esse consenso será sempre limitado e provisório, precisando ser reconstruído pelo diálogo permanente estabelecido entre os diferentes.
Aqui se tem toda uma perspectiva diferente do que se constrói com o trabalho evangelizador. A nova evangelização não se resume à simples catequese, entendida como ensinamento de fórmulas doutrinais, ou à realização de celebrações ou momentos devocionais que emocionem ou atraiam multidões. É claro que tudo isso pode ser feito; contudo, o que se busca é a prática da fraternidade em vista do estabelecimento de uma sociedade de convivência, onde as diferenças sejam respeitadas e ninguém seja excluído, a começar pela integração dos pobres e dos sofredores.

6. Teologia latino-americana
É verdade que a Igreja da América Latina se caracteriza por uma preocupação social bastante pronunciada, e isso vem de longa data. As comunidades eclesiais de base, por exemplo, atuaram decididamente na participação política em vista da conquista de melhores condições de vida para a população. A Igreja no Brasil, como um todo, caminhou bastante nessa direção e a própria realização, a cada ano, da Campanha da Fraternidade é testemunha disso. Muito do que se conseguiu em avanço na sociedade brasileira, a começar pela conquista da redemocratização, contou com a participação dos cristãos e da Igreja. É verdade também que, de tempos para cá, a preocupação social cedeu lugar a outras práticas eclesiais, algumas mais preocupadas com certa interiorização do sentimento religioso. Em certo sentido, a Igreja preocupou-se mais em olhar para si mesma, seu interior e sua organização, do que para seu lugar na sociedade e a realidade do mundo que a cerca.
O papa Francisco parece indicar o caminho da retomada das preocupações sociais. É verdade que a sociedade mudou bastante nos últimos anos e o discurso teológico-pastoral de décadas passadas não pode simplesmente ser aplicado na atualidade. A teologia tem consciência disso e por isso avançou nos últimos anos, também aquela que leva o nome de teologia latino-americana. O discurso foi atualizado, mas permaneceu a preocupação com os pobres e com a organização de uma sociedade da qual todos possam participar. Não é de estranhar que o papa latino-americano retome as intuições e práticas fundamentais da Igreja do continente e as apresente, renovadas, a todos os cristãos.
Fiel ao Vaticano II e à realidade dos pobres tal qual apresentada pela teologia da Igreja na América Latina, Francisco insiste no trabalho evangelizador que converta, além dos corações, as estruturas da sociedade em vista da concretização do Reino de Deus. O discípulo missionário de Jesus Cristo, lembra o papa, não se satisfaz em viver sua fé apenas em comportamentos religiosos, mas vai além, traduzindo nos atos cotidianos a convicção de que o Reino de Deus está presente no mundo e se pode viver em sua dinâmica por meio da solidariedade com os pobres e o fortalecimento dos laços de fraternidade entre todos, em um relacionamento novo que permita o respeito às diferenças, aos direitos humanos e à integridade da criação.

7. Igreja e sociedade
A fé cristã não pode ser reduzida ao domínio privado da vida. Aliás, lembra Francisco, nenhuma convicção religiosa pode sê-lo. Se a sociedade atual é plural, também no aspecto religioso, isso não significa a “privatização das religiões, com a pretensão de reduzi-las ao silêncio e à obscuridade da consciência de cada um ou à sua marginalização no recinto fechado das igrejas, sinagogas ou mesquitas” (EG 255). O diálogo ecumênico e inter-religioso não se esgota no respeito às diferentes formulações doutrinais, mas alcança propostas que visam ao estabelecimento da paz no espaço público. O respeito devido a quem não crê não pode se impor arbitrariamente, silenciando as convicções religiosas de quem crê. Afinal, a religião não visa preparar o crente apenas para viver no outro mundo, mas também para viver neste mundo, transformando-o em outro, onde reine a justiça, a tolerância e a fraternidade. Este parece ser o ponto central do ensinamento de Francisco, o qual a Campanha da Fraternidade pode aprofundar, no sentido de perceber a função social da religião e, mais que isso, a dimensão social do trabalho de evangelização.
A fé não se reduz ao privado, pois comporta implicações sociais. A convicção da fé cristã pode, ou deve, levar o crente à manifestação mais contraditória da mística do amor ao próximo: a da prática política, própria do discípulo missionário de Jesus Cristo. Afinal, a pregação da Igreja é bem mais que o anúncio de algumas verdades religiosas, pois é o anúncio da chegada do Reino de Deus. A Igreja não se anuncia a si mesma nem tem um fim em si mesma, mas está a serviço do Reino, exatamente como Jesus fez durante sua vida.
Trata-se de anunciá-lo e fazê-lo acontecer, sem resumir a fé ao culto ou à oração, mas envolvendo-os no compromisso com uma nova sociedade, mais humana e solidária. Afinal, o Reino de Deus realiza-se em novas relações: de filiação estabelecida com Deus e de fraternidade estabelecida entre as pessoas. Não deixa de ser curioso notar certas tendências culturais atuais, algumas às quais se adere rápido demais, como as do racionalismo ou de um laicismo exagerado, que não aceitam a afirmação da dimensão social da fé cristã. Há também tendências eclesiais que agem assim, como o conservadorismo, que quer guardar a fé no domínio do privado, sem aceitar suas implicações sociopolíticas. Lembram que na sociedade há quem não crê e, por isso, não se pode impor-lhes convicções religiosas ou derivadas da religião; ou então lembram o caráter confessional da teologia e a prática de fé como interiorização espiritual. Não é sem interesse notar que o discurso religioso conservador se liga a um discurso social dito progressista, talvez porque a ideologia dominante de ambos seja a mesma, a de guardar os benefícios da sociedade para aqueles que a dominam, evitando a partilha dos bens sociais. É preciso aqui recuperar o caráter profético do anúncio do Reino e da proclamação da fé, também para denunciar os interesses que se escondem atrás de belos e elaborados discursos, até porque faz parte do trabalho de evangelização a denúncia das idolatrias. Francisco, aliás, denuncia também as novas idolatrias que fundamentam o sistema social atual (EG 55-56), combatendo-as para que se possa construir uma sociedade humana.
O trabalho de evangelização não quer apenas repetir o que já foi feito como proclamação de verdades doutrinais. Deve-se proclamar, sim, a chegada do Reino de Deus e caracterizá-lo como o fez Jesus, como novas relações estabelecidas entre todos, pois todos são irmãos e filhos de Deus. A proclamação da chegada do Reino não isenta a Igreja do envolvimento na construção de uma nova sociedade, de um mundo novo onde todos possam ser integrados, a começar pelos últimos. Por isso, a proclamação da dignidade de toda pessoa humana, do estabelecimento da justiça nas relações sociais e da necessária construção da paz no respeito a todos é parte integrante do trabalho eclesial em seu serviço ao mundo, realizado em espírito de diálogo e como contribuição para o desenvolvimento dos povos.

Bibliografia

FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24 nov. 2013.
PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 8 dez. 1975.
PAULO VI. Carta Encíclica Populorum Progressio, 26 mar. 1967.
VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 7 dez. 1975.

*Pe. Antonio Manzatto,
Presbítero da Arquidiocese de São Paulo, doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina (1993) e professor titular da Faculdade de Teologia da PUC-SP. E-mail: amanzatto@pucsp.br
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