quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Pensar a Criação como Jogo, parte 2

... Continuação de parte 1 ...

Esse pensar a criação como jogo é buscar restabelecer com o mundo e com Deus uma relação de maior gratuidade, de um prazer compartilhado.
O jogo é uma atitude lúdica, opondo-se, desse modo, à atitude tecnicista que visa somente o útil. Devemos mergulhar nesse jogo do mundo e termos o modo de ser da criança, que quando joga se entrega inteiramente a seu jogo, nada a distrai. Nessa visão heraclitiana abrimo-nos ao logos do universo, ouvimos os murmúrios do universo.
O conceito de jogo não é uma descoberta apenas da teologia, esse conceito, além de estar presente no pensamento contemporâneo, está sondado também na Bíblia. Ao analisar a história do conceito de jogo, permite-se dar a esse conceito uma envoltura teológica.
Na Tradição bíblica o mundo não é visto de forma cíclica, como muitas mitologias antigas o apresentam.
Em Provérbios 8, 22-31, “a sabedoria criadora”, faz-se uma associação entre criação, sabedoria e jogo. Este texto, além de mobilizar a reflexão sobre estes conceitos, leva o leitor ao Novo Testamento, que realizará progresso novo e decisivo ao aplicá-lo à pessoa de Cristo. Jesus é designado como Sabedoria de Deus, e assim, Cristo participa da criação e conservação do mundo. Aqui percebe-se o jogo da sabedoria recebendo uma nova harmonia.
“O jogo é próprio da Sabedoria, cuja atividade deve ser distinguida do Criador. Ela assiste à criação”. (EUVÉ, 2006, p.163). Deus não cria jogando, quem joga é a Sabedoria, portanto, é o jogo da Sabedoria. Mas, esta Sabedoria está muito próxima de Deus, e reveste toda a criação de um caráter lúdico.
Existe, no Novo Testamento, uma forma lúdica de linguagem parabólica. O jogo, nem objetivismo da ciência, nem subjetivismo do sentimento individual, parece uma noção adequada para dar conta, através da linguagem parabólica, da relação de Deus com o mundo.

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