segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Imagens e ídolos, adoração e veneração

         Há uma distinção clara entre adoração devida só a Deus e veneração respeitosa dada a imagens. A Igreja se apoia em textos bíblicos que mostram Deus mandando confeccionar querubins ao lado da Arca da Aliança, a serpente de bronze e na encarnação do Verbo isso se evidencia ainda mais. A formulação dessa teologia se deu em muito no Concílio de Trento.

         As passagens de maior relevância estão no livro do Êxodo (especialmente o mandamento sobre ídolos e as ordens para o tabernáculo), exemplos do Antigo Testamento que mostram imagens ordenadas por Deus, isso porque muitos cristãos que interpretam de modo errôneo utilizam esse livro para se fundamentar. Nos textos do Novo Testamento encontra-se a fundamentação da dignidade da matéria pela Encarnação. Estudos modernos e as respostas conciliares retomam esses pontos para distinguir proibição de idolatria e da legitimidade pastoral e sacramental no uso das imagens. 

Êxodo 20,4–6 como o texto do mandamento que proíbe a adoração de ídolos, objeto de interpretação que delimita a proibição contra culto de falsos deuses e não contra toda imagem religiosa. A presença simultânea do mandamento contra ídolos e das instruções para fabricar as imagens sagradas no tabernáculo demonstra que a proibição é contra a adoração de imagens como deuses, não contra toda produção artística devota.

Êxodo 25,18–22 - Querubins sobre a arca, e Êxodo 25,40 - fazer conforme o modelo, usados para mostrar que Deus ordenou usar de representações no culto do tabernáculo. O comando de “fazer conforme o modelo” (Êxodo 25,40) é prova documental de que Deus autorizou formas visuais reveladas para o culto, legitimando representações litúrgicas quando claramente orientadas para Deus.

Êxodo 31,1–11 - Bezalel e Aoliabe dotados para as artes, justificam que a arte litúrgica e a fabricação de imagens são trabalhos sagrados e inspirados por Deus. A nomeação de Bezalel e Aoliabe como artífices inspirados (Êxodo 31) é indicação de que a habilidade artística tem um fim sagrado e comunitário, não meramente ornamental.

Exemplos de imagens ou entalhes no Templo e na mobília cultual, passagens de 1 Reis e 2 Crônicas, são citações frequentes em discussões históricas sobre imagens arquitetônicas e litúrgicas.

O episódio da serpente de bronze, Números 21,8–9, é o paradigma de objeto legitimamente exposto para cura e fé, distinto de ídolos adorados como deuses — usado em apologética clássica sobre imagens. Essa passagem também é prefiguração da crucificação de Jesus.

Textos do Novo Testamento sobre a Encarnação, como João 1,14, são fundamentais para afirmar que porque o Verbo se fez carne, representar Cristo em imagem é compatível com a fé cristã e ajuda a contemplação sacramental do mistério da encarnação (Natal).

          A leitura católica e a tradição patrística contextualizam o mandamento do Êxodo e mostram que o texto proíbe adoração de criaturas como deuses, não toda representação visual utilmente ordenada ao culto. O mesmo livro do Êxodo contém ordens para imagens cultuais e artesanato sagrado, o que exige uma hermenêutica que distingue proibição de idolatria e permissão mediada pelo culto de Yahweh.

         A distinção doutrinária central na teologia católica é entre latria (adoração exclusiva a Deus) e dulia/hyperdulia (veneração aos santos e honra especial a Maria), defendida explicitamente no período patrístico e reforçada no Concílio de Trento. Estudos históricos e patrísticos mostram que a resposta católica às críticas protestantes realçou esse ponto e estabeleceu normas pastorais para evitar idolatria e abusos 

Diferença essencial: latria é o culto adoracional devido só a Deus; dulia é honra reverente aos santos; hyperdulia é honra particular a Maria — essa tripartição é um núcleo explicativo da defesa católica da veneração de imagens.

Concílio de Trento (1545 a 1563): a formulação tridentina sobre invocação e veneração das imagens sublinha que a veneração das imagens não é adoração e que a Igreja regula práticas para evitar idolatria e superstição

Argumentos patrísticos e renascentistas: autores como Thomas More (1478-1535) e teólogos pós-tridentinos argumentaram que a proibição bíblica visa ídolos e que imagens servem como sinais auxiliadores da instrução e devoção.

Critérios pastorais: a tradição conciliar e os sínodos locais enfatizam três critérios para legitimidade — intenção (orientada a Deus ou aos santos), uso (instrutivo e litúrgico, não comercial), e claro ensino para o povo, evitando confusão com culto a criaturas.

         Conclui-se que as acusações e protestos contra o uso de imagem é uma mera má interpretação do texto bíblico e que evidencia uma total falta de diálogo aberto sobre a questão.


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